10 de julho de 2014

Opinião lúcida do Dr. Elias Jabbour sobre 'A queda do império Romano da Bola'

Elias Jabbour
Cai o Império Romano da bola!
Elias Jabbour *


Sermos derrotados da forma como fomos pela Alemanha, realmente é muito chocante. Algo que, possivelmente, não ocorrerá nunca mais na história o futebol. Mas, o jogo foi 7 a 1! O sinal foi dado de forma acachapante. O Brasil é o Império Romano da bola. Vive de seu passado de glórias.

Acho que não estou sendo desonesto do ponto de vista intelectual. Somente alguém guiado por um nacionalismo tosco e sem consequência poderia acreditar que essa seleção chegaria a algum canto. Adoro futebol e me amarro em variações táticas, estratégias diversas e jogadores polivalentes, agudos. Onde a eficiência está acima de feitiços de circo. Os nostálgicos e súditos de um Império Romano no fundo do poço poderão replicar com frases prontas do tipo “somos o futebol-arte”. Sei como funciona a economia de mercado, ainda mais uma economia de mercado onde o planejamento toma de conta. Não tem espaço para improvisos, “arte”, saudosismos e arrogância vazia.

O Império Romano do futebol caiu e os bárbaros não eram germânicos. A Germânia hoje é a pura sofisticação, o futebol total que alia tática, estratégia, técnica, ciência e alguma arte. Atributos capazes de nos colocar no museu do futebol, um império que vive de glórias do passado! A culpa não é de um centroavante mediano como o Fred, do esforçado David Luiz ou dos laterais sofríveis que temos. Temos um gênio, Neymar. E daí?

Futebol é um jogo que, como tudo na vida, expressa um processo. Seleção pregada no Instagram, clubes que não ensinam suas crianças, em escolinhas, a dar um passe, um cruzamento. Técnicos obsoletos de estilo feudal, meros aprendizes de psicólogos/feiticeiros. Dirigentes do porte de um José Maria Marin e Marco Polo del Nero. O que iríamos esperar? O título da Copa do Mundo seria um aborto, um prêmio à incompetência em detrimento do “futebol eficiência total”. Não podia, independente da nossa torcida.

E não dá para expressar em campo, nossos erros notórios repetidos desde a década de 1990 em matéria de Estado. Assim como combate à inflação não pode ocorrer por via dos juros e câmbio - sem barbárie social - não se prepara uma seleção numa das cidades mais frias do país e se joga em lugares acima dos 30 graus! Não se treina uma seleção com discursos motivacionais em lugar de duros treinos táticos. O que sobra aos alemães, faltou à seleção de José Maria Marin, Marco Polo del Nero e Felipão.

O mais interessante é que em meio a toda essa palhaçada futebolística, fizemos a Copa das Copas. Fizemos o mais difícil, diga-se de passagem. Nem os alemães fizeram algo próximo disso em 2006. É isso que deve nos dar alguma esperança. Nosso povo imerso em imensa capacidade e habilidade demanda projeto estratégico, de nação e de futebol. Como os alemães e seus meninos de gênio como Neuer, Shweinsteiger, Boateng, Hummels, Ozil e outros guiados por um estrategista do nível dos melhores generais prussianos, Joachim Low.

A questão não é só perceber as razões de Alemanha estar muito à nossa frente. É fazer o que eles fazem, assim como eles aprenderam conosco determinadas coisas. Só assim, poderemos deixar de ser o Império Romano da bola e mirar um futuro digno de uma potência mundial, em simplesmente tudo. Inclusive no Futebol!

** Doutor e Mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. Do Conselho Editorial da Revista Princípios e membro do Comitê Central do PCdoB.

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